Perereca-de-Alcatrazes: Zoo de SP é único lugar a reproduzir espécie ameaçada de extinção
- Luchelle Furtado
- 7 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
Perereca-de-Alcatrazes estão em extinção

Projeto teve início em 2009, porém apenas em 2011, por meio de uma licença especial e uma ação em conjunto com o ICMBio, que a instituição pode contar com os primeiros exemplares da espécie para iniciar a reprodução em cativeiro - Foto: Felipe Reis
Luchelle Furtado
A Perereca-de-Alcatrazes é um anfíbio nativo da Ilha de Alcatrazes, no litoral do estado de São Paulo. Inofensiva, a espécie está ameaça de extinção. Tal situação fez com que Zoológico de São Paulo desenvolvesse um projeto de conservação e produção dessa espécie em cativeiro, se tornando a única instituição a atingir o feito.
Reprodução de Perereca-de-Alcatrazes
A Perereca-de-Alcatrazes é uma espécie que procura a parte mais úmida das bromélias para viver. Isso porque, ela necessita manter a pele úmida, já que parte da sua respiração é feita por meio da pele. Nesse caso, se os poros do animal sofrerem ressecamento, a perereca pode morrer sufocada.
Apesar de ser uma espécie que vive somente na ilha de Alcatrazes – local pertencente à Estação Ecológica Tupinambás e que está sob a administração do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a Perereca-de-Alcatrazes, como apontado anteriormente, está ameaçada de extinção.
Pelo fato da Perereca-de-Alcatrazes ser endêmica de uma ilha de pequenas dimensões, ou seja, ocorrer apenas naquele local, se algo prejudicial acontecer ao ambiente, como incêndio, desmatamento ou até mesmo doenças, a população natural pode ser reduzida a ponto de não conseguir se restabelecer sozinha.
Nesse caso, manter uma população reproduzindo em cativeiro é uma segurança para a espécie, uma vez que, em caso de necessidade, existirão indivíduos aptos a retornarem à natureza para auxiliarem na recuperação da população natural.
Apesar de no mundo existirem diversas instituições que fazem trabalhos de conservação de outras espécies de anfíbios ameaçados – tendo em vista que os anfíbios, de forma geral, pertencem a um grupo com maior número de espécies ameaçadas -, atualmente, o Zoológico de SP é a única instituição no Brasil que tem um programa de conservação ex situ – processo de proteção e conservação de uma espécie que acontece fora do lugar de origem – para uma espécie de anfíbio ameaçada, o que faz com que a Perereca-de-Alcatrazes seja vista como exemplo pelas demais.

A Perereca-de-Alcatrazes é uma espécie que procura a parte mais úmida das bromélias para viver - Foto: Felipe Reis
O projeto teve início em 2009, porém apenas em 2011, por meio de uma licença especial e uma ação em conjunto com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que a instituição pode contar com os primeiros exemplares da espécie para iniciar a reprodução em cativeiro.
“Na ocasião, a espécie sofreu uma forte ameaça, uma vez que os paredões rochosos da Ilha de Alcatrazes eram utilizados pela Marinha como alvo para treinamento de tiros. Essa atividade representava um perigo muito grande para as espécies nativas da ilha, sendo que no passado, não muito distante, levou a um incêndio que queimou boa parte da vegetação da ilha”, explica a bióloga responsável pelo setor de Répteis/Anfíbios/Invertebrados da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Cybele Sabino Lisboa.
A bióloga ressalta que em 2013, houve um acordo entre ICMBio e Marinha para o encerramento dos treinamentos de tiros no local, porém, ainda assim, a espécie continua ameaçada por ser típica de um local restrito e com possibilidade de outras ameaças.
“Por essa espécie possuir todo o ciclo de vida associado a bromélias, em caso de perda total ou majoritária dessa vegetação, a espécie se extinguiria. Por esse motivo, o início da manutenção de uma população reprodutora da espécie em cativeiro foi essencial para assegurar sua sobrevivência enquanto as ações de mitigação das ameaças eram conduzidas pelos órgãos ambientais”, informa Cybele.

Zoo de SP é único lugar a reproduzir espécie ameaçada de extinção - Foto: Felipe Reis
Processo de conservação e reprodução
Segundo a bióloga, encontrar as condições ambientais adequadas, a qualidade da água para desenvolvimento dos girinos e a nutrição dos adultos são as maiores dificuldades quando se fala em reprodução da Perereca-de-Alcatrazes.
“Em primeiro lugar, é necessário conhecer a biologia básica da espécie e seus hábitos reprodutivos, assim como os gatilhos necessários para que a reprodução aconteça. Também é preciso fornecer as condições ambientais, nutricionais e sanitárias adequadas para garantir que os anfíbios estejam saudáveis”, explica Cybele.
No caso da Perereca-de-Alcatrazes, por se tratar de uma espécie ameaçada, antes do Zoológico de São Paulo começar a desenvolver o protocolo de manutenção e reprodução para ela, foi preciso trabalhar por dois anos com uma espécie de hábitos semelhantes, a Pererequinha-de-Bromélia (Scinax perpusillus).
“O aumento da umidade, associado a ambientes com água que imitassem as bromélias para desenvolvimento de ovos e girinos, foi essencial para a reprodução dessa espécie. Quando a criação da Pererequinha-de-Bromélia já estava dominada, isso nos trouxe confiança para aplicar os conhecimentos adquiridos na espécie ameaçada e obter o sucesso reprodutivo com maior facilidade”, acrescenta a bióloga.
Atualmente, mais de 10 anos após o início do projeto, para Cybele é certo dizer que o trabalho continua árduo e com o mesmo objetivo. “Enquanto a espécie estiver inserida na lista de animais ameaçados de extinção, pretendemos manter uma população de segurança em cativeiro para salvaguardar a espécie. Com essa população, também desenvolvemos pesquisas científicas relevantes para a conservação dessa espécie e de outros anfíbios”.
Além disso, vale ressaltar que não é permitido manter anfíbios em casa, pois é ilegal. Esse tipo de trabalho deve ser conduzido por pessoas e instituições competentes e com autorizações para isso.
“Nós fazemos também trabalhos de divulgação e de educação ambiental para sensibilizar a comunidade em relação à importância dos anfíbios e as ameaças que enfrentam, esperando-se, com isso, mudanças de atitudes das pessoas em relação ao meio-ambiente”, concluiu a bióloga.

Manter uma população reproduzindo em cativeiro é uma segurança para a espécie - Foto: Felipe Reis
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